Inclusão escolar de adolescente com Síndrome Down - Relato da mediadora Roberta Murta
- Janaina Cavalcanti
- 11 de out. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 13 de out. de 2022
Capitulo 01
Trata-se de relato de experiência de uma aluna do sexto período do curso de psicologia da Universidade Estácio de Sá (Campus Maracanã) como mediadora escolar de adolescente portador da Síndrome de Down. O relato é subdividido em quatro eixos que se interligam transversalmente, sendo eles: o momento da entrevista inicial com os pais, a relação estabelecida com a escola, os primeiros dias om o adolescente e, por fim, a autopercepção acerca de suas próprias vulnerabilidades e sentimentos que emergiram ao longo desses primeiros contatos.
A ENTREVISTA INICIAL COM A MÃE DO ADOLESCENTE
O primeiro contato foi feito por telefone pela mãe do adolescente e na ocasião, marcamos um encontro em sua casa para nos conhecermos pessoalmente e alinharmos expectativas. Gosto de usar a expressão “alinhar expectativas”, pois embora no momento de qualquer entrevista de emprego o maior interessado seja a parte contratada, é muito importante que o mediador aproveite esse momento inicial de contato com a família para avaliar não apenas a conveniência do valor a ser pago pela contratante, mas principalmente, se a patologia apresentada pelo adolescente desperta o seu interesse acadêmico em se aprofundar sobre o assunto, o que certamente possibilitará uma variedade maior de intervenções a serem realizadas com o adolescente. Um outro ponto a ser observado é o diálogo com a família e nesse relato específico foi um ponto muito importante que acabou despertando ainda mais meu interesse. Assim que cheguei à residência do adolescente fui recepcionada pela mãe e logo nos primeiros minutos de conversa ela me informou que o adolescente em questão possuía um irmão gêmeo que não possui Síndrome de Down. Nesse momento me senti à vontade para iniciar o diálogo perguntando se durante a gravidez ela já sabia que um dos gêmeos tinha Síndrome de Down e ela disse que não, que só soube no momento do parto, pois o primeiro que nasceu chorou e o segundo, não chorou; naquele momento ela soube que havia algo de diferente entre eles, o que foi confirmado pela equipe médica logo em seguida. A partir desse momento a mãe compartilhou que alguns meses após o parto passou por um processo de separação do pai dos gêmeos e que optou por parar de trabalhar para se dedicar em tempo integral à criação dos meninos. Nesse meio tempo, recebeu um diagnóstico falso de que o adolescente ficaria surdo, o que não aconteceu, muito pelo contrário, além de ouvir normalmente, o adolescente possuí habilidade excepcional para a música, podendo ser considerada uma de suas maiores potencialidades. A mãe informou ainda que desde cedo tanto o adolescente, quanto o irmão, realizam acompanhamento psicoterápico semanal e que uma vez na semana o adolescente participa de aulas de dança junto a um grupo composto por participantes portadores da Síndrome de Down.
Na ocasião a mãe também informou que a mediadora atual havia se formado na faculdade e por isso procurava outra mediadora que pudesse substituí-la o quanto antes, pois em poucas semanas ele entraria em semana de provas na escola. Ou seja, o adolescente passaria por um processo de transição de uma mediadora para outra.
A mãe também falou sobre o funcionamento da escola e após conversarmos sobre a minha experiência profissional, disse que em breve o adolescente chegaria em casa e que gostaria que ele me conhecesse no mesmo dia.
Desde o primeiro momento o adolescente foi muito simpático contando sobre como tinha sido o dia na escola. Falou sobre seu interesse por música, filmes e contou sobre uma apresentação musical que participou na escola. Num outro momento, pegou um porta-retratos na sala e me contou a história da foto todo animado. Curiosamente, na foto ele estava em cima de um palco com uma dançarina de tango e ele me diz: “sabe o que eu disse para ela?” E respondi: “não faço ideia, me conta”; e ele: “eu disse: es muy hermosa”. Sim, ele falou com ela perfeitamente em espanhol e aqui já pude colher mais algumas informações: o interesse por palcos, apresentações musicais; a habilidade para aprender; e sinais de um adolescente, digamos, galanteador, que possivelmente está experimentando os desejos e sensações próprios da fase de desenvolvimento em que se encontra.
Ao final do encontro, combinei com a mãe que iria à escola antes do término do contrato da mediadora atual, para que pudéssemos trocar algumas informações e também seria uma oportunidade de conhecer a escola, e assim fizemos.
Gostou? Preparando o próximo relato.

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